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Quando é altura de ser generoso com o que a vida nos reservou ou com quem nos magoou, a generosidade fica-se. Para nós a dor dos outros tem sempre remédio, estamos lá nós para a diminuir. É coisa pouca, toma-nos tempo ou trocos e pouco mais. Mas a nossa, oh, a nossa própria dorzinha é sempre tão tremenda, tão injusta, tão maior do que a dor outros, que não conseguimos cometer aquele que creio ser o maior e mais honesto ato de generosidade: perdoar. E às vezes falta-nos até a lucidez para perceber que quem nos causou a dor estava apenas a dar um safanão de desespero no nada ou a bater os pés para não se afundar e, por mero acaso, acertou-nos. Haja muitas iniciativas de solidariedade não só porque o mundo precisa, mas para continuarmos a lavar as nossas mãos e sacudirmos as poeirinhas incómodas da consciência. De noite, contudo, no sono profundo, hão de abrir-se as gavetas fechadas onde guardamos os papéis das contas que nunca saldamos por egoísmo, orgulho e arrogância. Por presumirmos que somos sempre credores.
escrito por Mãe Preocupada
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