sábado, 18 de maio de 2013

Isto não é um post sobre os exames de 4º ano

Ao longo dos meus catorze anos de ensino que tenho passado por várias fases. Nos meus dois/três primeiros anos carreira quase que me sentia como uma irmã para os meus alunos. Queria ser a professora-amiga. Estar numa sala de aula, para além de ser uma descoberta constante também era uma questão de sobrevivência. Estava muito centrada no meu desempenho, mais até do que no dos próprios alunos e apesar de nunca ter deixado de me preocupar com as suas aprendizagens, eu não queria falhar. Pensava as aulas ao pormenor, cada passo, cada conversa, cada atitude e, se bem que isso me podia ajudar, também não me deixava ser tão natural como deveria. Os problemas de indisciplina preocupavam-me demasiado e consumiam-me de uma forma assustadora. Apesar de ter um enorme orgulho naquilo que fazia, havia um outro lado que me deixava ansiosa e, às vezes, duvidava das minhas capacidades.

Mais tarde, depois de refeita do "choque" de entrar numa sala de aula pela primeira vez, depois de perceber um bocadinho mais as crianças e a própria escola em todas as suas vertentes, estabilizei um pouco. Quis aprender mais, fiz muitas formações, inscrevi-me no mestrado, tinha sede em aprender. Achava (e ainda acho) que a licenciatura não era quase nada e não nos preparava minimamente para a realidade de uma sala de aula ou escola e, por isso, tive necessidade em abrir os meus horizontes. Foi uma época dura da minha vida - vivia sozinha e com o trabalho e os estudos ao mesmo tempo, senti-me muito desamparada e sozinha. Por incrível que possa parecer também foi a época em que mais me diverti e onde conheci pessoas muito especiais e que ainda fazem parte da minha vida.  

Um dia mudei de escola. Fartei-me das pessoas, da cultura de trabalho que ali existia e concorri para outro sítio. Apesar de não ter sido recebida de braços abertos, fui-me adaptando a um novo mundo ainda mais complicado, ainda mais desafiador do que aquele onde já tinha estado. Os colegas ainda me olhavam de lado mas aos poucos fui-me integrando e há oito anos que trabalho no mesmo local. 

Agora olho a escola com outros olhos. Já não me preocupa tanto o domínio dos conteúdos porque já me sinto mais que segura nesse campo; a indisciplina apesar de ser uma constante no meu dia-a-dia não me deixa agora tão angustiada. Digam o que disserem, a experiência vai-nos moldando e a capacidade em sabermos ouvir os outros, os nossos pares, os nossos alunos e os pais dos nossos alunos é muito importante e faz-nos evoluir. 
No ensino, na aprendizagem, as relações humanas são o pilar para tudo o resto e é neste campo que muita coisa falha. Não somos perfeitos e não podemos esperar a perfeição dos outros mas podemos tentar ouvir, tentar compreender, tentar que o diálogo seja a base de entendimento para uma escola mais sólida e feliz.

Temos um sistema educativo que não ouve ninguém mas que preza mais a avaliação externa em detrimento da avaliação interna, que relega todo o contexto sócio educativo dos alunos para segundo ou terceiro plano, que não faz da equidade e igualdade de oportunidades para todos, TODOS os alunos do ensino público e privado, uma bandeira. Temos antes um sistema educativo que dá importância a rankings. Como o Daniel Oliveira escreveu no Expresso "(...) Crato está, aos poucos, a destruir quase tudo o que de bom foi feito: o horário completo, a importância das disciplinas mais criativas, o uso de novas tecnologias, o programa de matemática que melhores resultados conseguiu. Mas tem exames para dar e vender. Porquê? Porque para fazer exames não é preciso nada de especial. Basta umas salas, umas secretárias, professores para vigiar e corrigir e um discurso populista e severo para agradar ao povo. Qualquer pessoa consegue chumbar um mau aluno. Difícil mesmo é criar condições para ensinar quem não consegue aprender."

E para acabar que este post já vai longo, deixo-vos este vídeo. Um vídeo que não me canso de ver, que me arrepia. Com um bocadinho mais de paciência, ainda o vêem também.


Sem comentários:

Enviar um comentário